Avançar para o conteúdo principal

Filhos da violência

Filhos da violência
Existem realidades que conhecemos através dos meios de comunicação social. Jovens que roubam, que se drogam, que vivem por si só e cometendo os mais diversos comportamentos desviantes. 

São criticados e intitulados de marginais. De facto cometem crimes contra inocentes e até contra si próprios. É condenável, sem dúvida. 

Somos educados, respeitamos regras, seguimos um caminho escolar, social e familiar dentro do considerado normal. Logicamente ficamos perplexos com a violência e com os delitos cometidos por esses jovens que, não recebendo acompanhamento, serão certamente adultos perigosos. 

Não desculpando tais actos, enquanto Psicóloga, tenho oportunidade de ouvir suas histórias de vida. O M. assume "desde os seis anos que ando na rua, utilizando o meu corpo para obter dinheiro. Se voltasse para casa, o meu padrasto espancava-me ou violava-me e a minha mãe ainda lhe dava razão. Aprendi que só a violência resolve a nossa dignidade. Sim eu ando à porrada. Não consigo permitir mais que abusem de mim ou me critiquem". O L. conta que "só encontrei algum conforto nos efeitos da droga com os meus amigos. Eles aceitam como sou... Mas eu não. Na minha cara tenho duas cicatrizes de faca, dadas por quem mais amei. A minha mãe era uma pessoa descontrolada." 

Poderia continuar a relatar testemunhos. Mas estes já "explicam" alguns delitos. Jovens que deviam estar na escola, em família, a ter acesso às atividades normais do quotidiano e a desenvolver de forma saudável as suas dificuldades e emoções. Mas não. Estão a tentar viver em alívio permanente com estratégias negativas apreendidas no seu desenvolvimento. Sim, tornam-se adultos perigosos e perturbados. E a geração contínua, num ciclo incontornável pois a sua confiança e a sua esperança em obter uma vida "normal" é escassa. É difícil, porque legitimamente, não são aceites. 

Aos que têm acesso a uma intervenção multidisciplinar poderão obter um rumo, mediante as suas capacidades. 

O que mais me atormenta, são as inúmeras famílias e crianças negligenciadas que ainda não estão sinalizadas. Um contexto tão próximo e tão distante ao mesmo tempo...






Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não quero viver em stress!

    O nosso estilo de vida tem um papel fundamental de como gerimos o stress e melhoramos a nossa saúde física e mental. As exigências do quotidiano, as obrigações familiares e profissionais, as nossas relações interpessoais e nossos hábitos diários podem contribuir significativamente na qualidade de vida. Por vezes, para conseguir um estilo de vida mais saudável e reduzir o impacto do stress é necessário evitar algumas situações: A rotina acelerada e a sobrecarga de trabalho: A constante pressão para cumprir prazos e metas pode gerar ansiedade e esgotamento. Uma a limentação desequilibrada: O consumo excessivo de alimentos processados, açúcares e cafeína pode influenciar negativamente o humor e os níveis de energia. A falta de sono: Um sono de qualidade é essencial para a recuperação física e mental. A privação de sono pode aumentar a irritabilidade e a dificuldade em lidar com o stress. O sedentarismo: A falta de atividade fí...

A fragilidade das opções

Dizem as "minhas" pessoas em consulta:  - Temos que (constantemente) tomar opções.  Muitas delas, focadas nos outros, nas circunstâncias e, às vezes, no que nos parece mais fácil ou na que recebemos mais apoio. Raramente decidimos algo em que o caminho seja a solo.  Abdicamos, adiamos e até desistimos de concretizar ou fazer coisas. Criamos ilusões e vivemos desilusões, mas tentamos manter-nos fiéis no caminho, cada vez mais estreito, que julgamos ser o melhor, mais lógico, mais correto e seguro.  O que nós desejamos fica num passado onde as circunstâncias, o conformismo, a pressão social e até o medo não nos deixaram voltar a agarrar.  Vivemos então de queixas e angústias,  atribuídas à má sorte. E assim continuamos, em dias mais ou menos bons, ocupados por obrigações ou rotinas que servem, na maioria das vezes, para nos esquercermos que podiamos ser e/ou fazer outras tantas coisas.   Porque é que já não há tempo e condições para as realizar? Por...

Já fazia falta!

As  brincadeiras q ue observo diariamente estão contaminadas por jogos online ou por vídeos do YouTube, apesar de algumas serem divertidas e criativas!  Inevitavelmente, lembro-me dos jogos que fazia quando era miúda. Alguns fazem falta hoje em dia! E muita!  Com pouco, treinávamos muitas competências e ainda nos riamos "à brava"! Vejamos! - O jogo do elástico: ótima brincadeira para treinar a área psicomotora, estando a fazer uma competição saudável com os pares. Poderia ser incluída numa aula de desporto, mas nunca vi nos dias de hoje. Neste jogo, também é importante que cada participante aguarde pela sua vez, competência que as crianças necessitam de adquirir nos dias de hoje. - O jogo do berlinde: em grupo, as crianças aperfeiçoavam a motricidade fina, a partilha, o convívio e a competição não violenta. E é um brinquedo barato! - A bota "Botilde" ou o "limão": Nunca mais vi este brinquedo à venda! As crianças utilizavam-no sozinhas ou em grupo, trein...