Avançar para o conteúdo principal

O que queremos ser nas redes sociais

Há uns dias ouvi um colega psicólogo a dizer que hoje em dia a maior parte das pessoas estão mais interessadas em registar os bons momentos do que propriamente em vivê-los em pleno (fotografar, publicar nas redes e/ou partilhar tudo a outras pessoas).

Concordo.

Para muitas pessoas, um momento feliz, único e diferente, se não for partilhado ao "mundo" e aos "amigos virtuais" parece que não tem significado ou importância.

Por vezes, as redes sociais parecem uma competição acerca de quem almoçou melhor, de quem se divertiu mais, passeou mais, fez mais desporto ou visitou os melhores lugares. Também existe uma necessidade de mostrar que temos amigos, bens ou boas oportunidades, que estamos em boa forma física, que somos divertidos, bonitos ou inteligentes, numa incansável divulgação pessoal, procurando "gostos" ou bons comentários.

Não sou contra as redes sociais, até pelo contrário. Também divulgo algumas "futilidades" quando me apetece, porque faz parte desta nova era tecnológica e porque, legitimamente, também gostamos de partilhar o que nos faz sentir bem e feliz. Ainda serve para divulgar o nosso trabalho, para encontrar antigos colegas e amigos ou para ter acesso a grupos profissionais e sociais úteis.

Mas, onde está o limite do que é aceitável ou exagerado? Que intenções têm as publicações?

Por exemplo, uma doente confessou-me em consulta que sentiu necessidade de obter apoio nas redes sociais quando o seu namorado a deixou. Numa primeira fase, expôs o seu problema, criticando ou colocando em causa os valores do "ex". Choveram mensagens de apoio e de coragem, muitos likes a "chorar" ou com "raiva" e outras partilhas do mesmo género. Pouco tempo depois, começou a colocar inúmeras fotografias suas em vários momentos, mostrando-se bem e feliz, demonstrando uma ótima "recuperação" emocional. Contudo, chorava em consulta e os momentos que expunha nas redes sociais não eram verdadeiros. Mas, criava a "ilusão" que o mundo virtual não ia perceber este falso estado de espirito e que todos iam observar que estava bem e alegre. Desta forma, também acreditava que o seu "ex" iria arrepender-se de a ter deixado, ao constatar a sua beleza e a sua felicidade no Instagram.

Outro exemplo que tive em consulta, foi o caso de um paciente que, sem ter conhecimento, foi  identificado numa foto de um amigo no Facebook, onde estava com várias pessoas num restaurante. Esta publicação, aparentemente inofensiva, teve repercussões na sua vida amorosa.

Deixou de existir privacidade, onde podemos ser identificados e expostos sem termos conhecimento ou sem o direito de permitir (ou não) tal divulgação. O que se expõe pode ter consequências. Existem muitas campanhas preventivas a esse nível das quais a maior parte das pessoas não consideram.  

O meu trabalho nas escolas tem-me alertado para situações bem mais graves, onde a humilhação entre os jovens, o bulling e as agressões são expostas nas redes sociais como algo "glorioso", como diversão ou "gozo" ou até como vingança. Nestas situações, além do crime do próprio acto, ainda existe a agravante da publicação, onde ainda causa mais consequências graves na vida das vitimas.

Por outro lado, este Ciberbulling permite a identificação de muitos casos de violência. 

As redes sociais têm, sem dúvida, um lado extremamente negativo mas também podem ser uma mais valia, dependendo sempre do que queremos ser nas redes sociais. 



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não quero viver em stress!

    O nosso estilo de vida tem um papel fundamental de como gerimos o stress e melhoramos a nossa saúde física e mental. As exigências do quotidiano, as obrigações familiares e profissionais, as nossas relações interpessoais e nossos hábitos diários podem contribuir significativamente na qualidade de vida. Por vezes, para conseguir um estilo de vida mais saudável e reduzir o impacto do stress é necessário evitar algumas situações: A rotina acelerada e a sobrecarga de trabalho: A constante pressão para cumprir prazos e metas pode gerar ansiedade e esgotamento. Uma a limentação desequilibrada: O consumo excessivo de alimentos processados, açúcares e cafeína pode influenciar negativamente o humor e os níveis de energia. A falta de sono: Um sono de qualidade é essencial para a recuperação física e mental. A privação de sono pode aumentar a irritabilidade e a dificuldade em lidar com o stress. O sedentarismo: A falta de atividade fí...

A fragilidade das opções

Dizem as "minhas" pessoas em consulta:  - Temos que (constantemente) tomar opções.  Muitas delas, focadas nos outros, nas circunstâncias e, às vezes, no que nos parece mais fácil ou na que recebemos mais apoio. Raramente decidimos algo em que o caminho seja a solo.  Abdicamos, adiamos e até desistimos de concretizar ou fazer coisas. Criamos ilusões e vivemos desilusões, mas tentamos manter-nos fiéis no caminho, cada vez mais estreito, que julgamos ser o melhor, mais lógico, mais correto e seguro.  O que nós desejamos fica num passado onde as circunstâncias, o conformismo, a pressão social e até o medo não nos deixaram voltar a agarrar.  Vivemos então de queixas e angústias,  atribuídas à má sorte. E assim continuamos, em dias mais ou menos bons, ocupados por obrigações ou rotinas que servem, na maioria das vezes, para nos esquercermos que podiamos ser e/ou fazer outras tantas coisas.   Porque é que já não há tempo e condições para as realizar? Por...

Já fazia falta!

As  brincadeiras q ue observo diariamente estão contaminadas por jogos online ou por vídeos do YouTube, apesar de algumas serem divertidas e criativas!  Inevitavelmente, lembro-me dos jogos que fazia quando era miúda. Alguns fazem falta hoje em dia! E muita!  Com pouco, treinávamos muitas competências e ainda nos riamos "à brava"! Vejamos! - O jogo do elástico: ótima brincadeira para treinar a área psicomotora, estando a fazer uma competição saudável com os pares. Poderia ser incluída numa aula de desporto, mas nunca vi nos dias de hoje. Neste jogo, também é importante que cada participante aguarde pela sua vez, competência que as crianças necessitam de adquirir nos dias de hoje. - O jogo do berlinde: em grupo, as crianças aperfeiçoavam a motricidade fina, a partilha, o convívio e a competição não violenta. E é um brinquedo barato! - A bota "Botilde" ou o "limão": Nunca mais vi este brinquedo à venda! As crianças utilizavam-no sozinhas ou em grupo, trein...