E pior. Preciso que todos cumpram essa distância, principalmente os desconhecidos, com quem me cruzo nos supermercados e no trabalho.
Preciso que uma multidão de pessoas se preocupem com quem gosto. É frustrante e inquietante.
Preciso também que não desvalorizem a minha segurança, como às vezes descuidam a sua.
Ainda necessito que saibam compreender que estamos a lidar com o desconhecido e com o imprevisível. Que pode passar despercebido para alguns e ser fatal para outros. Uma roleta russa.
Tal como eu, será que esta multidão pensa nas inúmeras famílias em sofrimento? Será que também se recordam das palmas que soaram há uns meses nas janelas a louvar os profissionais de saúde? Será que ainda têm em mente a prevenção dos seus familiares mais idosos ou de risco? Se sim, as "minhas pessoas" podem ir ao supermercado mais tranquilos e, quem sabe, de forma cuidada e distante, a uma esplanada beber um café.
Continuo a questionar-me se, apesar de tudo, esta multidão não gosta das "pequenas" grandes coisas da vida? Serão as práticas de convívio não "obrigatórias" e os lazeres tão incansáveis que não saibam esperar por melhores dias? Na minha prática diária observo mais crianças atentas do que jovens adultos. Estes usam por obrigação a máscara dentro da escola, mas retiram-na à pressa assim que saem dos portões, num convívio de extrema proximidade e partilha, sem qualquer preocupação. Os jovens são parte integrante desta multidão.
Neste momento, ainda pergunto à multidão se prefere sorrir de máscara ou se chorar sem ela. Multidão...se não cuidarmos de todos nós, ficaremos sós, mesmo acompanhados. Está na altura de fazer uma pausa. Só isso.
Um grande bem haja a todos os profissionais que estão na linha da frente a cuidar de todos nós.
Nota: Este artigo é dedicado a todos os que sofreram e ainda sofrem os efeitos do Covid-19 nas suas vidas e que perderam pessoas queridas, sem direito a despedidas, onde a esperança não se sobrepôs aos efeitos descontrolados deste vírus. Dedicado também, a todas as pessoas que cumprem diariamente todos os cuidados e que, ainda assim, tentam viver de forma cuidadosa e adaptada a esta fase. Que fizeram um standby em muitas atividades em prol de todos nós. Que aceitam todas as iniciativas para combater a disseminação. Que reinventaram novas formas de viver até que isto passe. Pois estas pessoas sabem que, apesar de nos ser apresentado um número, todas as pessoas tinham um nome e uma vida como a nossa.
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